terça-feira, 19 de maio de 2009

Carta aos Senadores. Audência pública no Senado 19/05

Exmos Senadores


A estratégia que está sendo utilizada para desmerecer as Políticas de Sáude Mental defendidas pelo SUS é perversa e leviana. Nos últimos meses temos assistido em todo canto desse país, em notíciários veiculados na imprensa e pela internet, a divulgação de uma enormidade de "casos" de pacientes de saúde mental e de familiares que se sentem desassistidos em sua necessidade, com a intenção clara de desqualificar os avanços da Reforma Psiquiátrica, a lei 10 216, o SUS e também os novos serviços e dispositivos de atenção em saúde mental. Se utilizam de relatos de casos e situações que certamente são verdadeiros e acontecem (afinal não existe nenhum sistema perfeito) não para lutar por avanços nessa política, mas para difundir a idéia de que esses pacientes estariam melhores se os leitos nos hospitais psiquiátricos tivessem sido preservados, o que não é verdade. A história recente não nos deixa cair nesse engodo, pois a verdade é que os hospícios se transformaram em depósitos humanos e não em lugares de tratamento. A lógica do manicômio não trata, apenas "varre para debaixo do tapete". Portanto, o que vemos hoje exmos senadores, são apenas as vicissitudes e realidades vividas por quem sofre de doença mental que se hoje podem aparecer na mídia, anteriormente ficariam exilados e silenciados por traz dos muros dos manicômios. É claro que ainda não chegamos onde pensamos poder chegar, precisamos avançar muito, ampliar serviços, criar novos dispositivos, abrir o hospital geral para as enfermidades mentais, ampliar assistência, mas não retroceder, acreditando que um maior número de leitos em hospitais psiquiátricos melhora a qualidade do atendimento. Na verdade, esta não é nem uma particularidade da saúde mental, hoje sabe-se no mundo inteiro que avançar nas políticas de saúde não tem nada a ver com aumento do número de leitos hospitalares, a resposta está na prevenção, na atenção básica e nos serviços de base comunitária.


Sendo assim, fazemos um apelo aos senhores para que os avanços da Reforma Psiquiátrica seja garantido. Temos consciencia que nossa política atual tem lacunas, falhas e distorções mas estamos caminhando. Os hospitais psiquiátricos tiveram mais de 200 anos para se estabelecer e nos mostraram sua ineficiência, para não dizer sua desumanidade. O modelo que propomos ainda é uma criança, tem apenas 8 anos, se contamos como início a implantação da lei 10 216 de 2001. Essa criança precisa de atenção e zelo para que possa crescer de forma a alcançar todo o seu potencial e não ser desmerecida e enfraquecida.


Contamos com vosso apoio.

Rita de Cássia Araújo Almeida
Psicóloga
Psicanalista
Coordenadora do CAPS Casaberta de Lima Duarte/MG
Supervisora do CAPS ij de Juiz de Fora/MG

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