terça-feira, 19 de maio de 2009

Carta aberta à Comissão de Assuntos Sociais

Exma. Sra.
Senadora Rosalba Ciarlini e
Exmos. Srs.
Senador Flavio Arns,
Senador Inácio Arruda e
Senador Augusto Botelho
Membros da Comissão de Assuntos Sociais
do Senado Federal.

Venho por meio deste expressar minha preocupação frente a um movimento que observo pelo menos desde 2006, e que nos últimos meses vem se acirrando intensamente, no sentido de difamar a política de atenção à saúde mental no Brasil, através especialmente dos meios de comunicação e congressos científicos (?) onde tem sido divulgadas grosseiras inverdades sobre a situação da assistência psiquiátrica brasileira.

Como médica psiquiatra, com experiência em atenção a pacientes psiquiátricos graves, psicóticos crônicos, egrressos de inúmeras (10, 20, 30 internações), gostaria de convidá-los a conhecerem os serviços criados a partir da nova legislação psiquiátrica brasileira.

Há inumeráveis serviços no Brasil a serem conhecidos para que se tenha uma visão realista da situação. Pessoalmente, convido-os a conhecerem o Centro de Atenção Psicossocial de Santa Cruz do Sul (RS) onde trabalhei por 12 anos, e conversarem com os familiares e usuários do serviço que lá frequentam e que, com base num cuidado intensivo, qualificado, preventivo e reabilitador, em âmbito ambulatorial, provocou uma mudança radical no curso de suas 4-5 internações por ano, permitindo-os estarem no convívio familiar há 8-10 anos sem necessitarem de internações psiquiátricas.

E se porventura um dia ainda precisarem, serão atendidos dignamente numa unidade psiquiátrica do hospital geral da cidade, numa internação breve.

O Hospital Psiquiátrico que os acolhia nos últimos 110 anos, a preços altos, foi desativado em 1999, sem que ocorresse nenhuma comoção na cidade pela sua falta, exceto aquela provinda de seus mantenedores.

Não está atualizado o psiquiatra que diz que pacientes graves tem que ser internados. Nossa clientela é essencialmente grave, e não podemos por isto, reduzir suas vidas a clausura dos hospitais.

Como médica filiada a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) é necessário esclarecer que esta não representa o pensamento e experiência dos psiquiatras do país.
Ao contrário, a ABP tem vinculado o movimento da reforma psiquiátrica a ideologias e a negação das doenças psíquicas que o próprio movimento não defende.

Respeitosamente, sinto-me na obrigação de contribuir com estas impressões (que certamente podem ser comprovadas in locu) frente a uma mobilização tendenciosa e aparentemente orquestrada que resiste a considerar todos os avanços alcançados nos últimos anos após a mudança de paradigma na atenção à saúde mental que a reforma psiquiátrica vem promovendo.

Martha Helena Oliveira Noal

Especialista em Psiquiatria pela ABP
Especialista em Humanização na Atenção e Gestão do SUS pela Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do RS e UNIJJUÍ.
Preceptora da Residência em Psiquiatria do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Maria (RS)
Presidente de Honra da Associação de Familiares, Amigos e Bipolares (AFAB)
Membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Transtornos Afetivos (ABRATA)
Sócia fundadora da ABRASME e ABTB (Associação Brasileira de Saúde Mental e Associação Brasileira de Transtorno Bipolar), sócia da Associação Brasileira de Psiquiatria.

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